'Transforma-se o amador na cousa amada
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada'
É, o amor platônico. Aquele auto-suficiente, completo por si só. Uma coisa linda de se dizer, muito bela de se apreciar. Uma das maneira mais independentes e singulares de se amar.
Isso me faz lembrar um menino, alto, bonito e forte. Eu estava na primeira série, e meu coração batia mais forte toda a vez que eu o via; era o meu namorado. Ele só não sabia disso. Acho até que ele nem sabia que eu existia. Mas eu era feliz, passava horas imaginando o nosso casamento, as flores que ele iria me trazer e os poemas que ele iria recitar na beira da minha janela. Mas passou, assim como toda paixonite de criança que acaba logo.
E eu cresci. E amar assim, plantônicamente, não foi mais o suficiente.
Não consigo me sentir completa apenas pelo fato de amar alguém, de querer uma pessoa bem. Preciso de reciprocidade, preciso que alguém me abrace e me beije e diga que me ama também. Preciso que me perguntem como foi o meu dia, ou que tentem me consolar quando eu estou triste e cabisbaixa.
E amar assim, reciprocamente é tão mais interessante. É muito melhor, ter realmente um poema recitado na beira da janela do que apenas fantasiar com ele, é tão bom, não só ter alguém pra amar, para execer amor, mas também poder ser um instrumento para que outra pessoa exerça a tão bela ação de amar.
Talvez o mundo fosse realmente um lugar melhor se todos o amadores se transformassem na 'cousa amada' e todos se sentissem felizes apenas por amar. Talvez não houvessem mais namoradas assassinadas, as pessoas fossem alegres, e educadas o tempo todo apenas pelo fato de amar, de amar por si só.
Mas não é fácil, pelo contrário, é muito difícil encontrar a felicidade sozinho. A felicidade a dois, a três, a quatro é muito mais simples de se encontrar, embora aí, seja necessário depender de outros para ser feliz
Mas, Camões que me desculpe, amar é bom sim, mas amar e ser amado é melhor ainda :)
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